Já passamos do tempo em que pilotar pequenas aeronaves era coisa de criança. Desde 2017, a antiga brincadeira virou profissão com a primeira regulamentação do uso de drones no Brasil pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Desde então, 80 mil dispositivos são reconhecidos pela agência reguladora, sendo 35.144 deles voltados para o uso exclusivo das indústrias.
Criado em 1977 pelo engenheiro espacial israelita Abraham Karem, o drone foi inspirado em um modelo de bomba voadora usado pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, a chamada “buzz bomb”. Na época, o criador afirmou que foram necessárias 30 pessoas para comandar a aeronave no céu – o que desestimulava o seu uso pelas empresas e pela população em geral. Quatro décadas depois, no entanto, o negócio se tornou bilionário e viral – serão 5 milhões de dispositivos vendidos no planeta até 2025 e um faturamento de cerca de US$ 15,2 bilhões por ano, segundo a consultoria Gartner.
Diante dessa realidade, a profissão de piloto de drone foi apontada como um dos trabalhos do futuro pela Robert Half, empresa especializada em recrutamento. Além das inúmeras possibilidades de atuação, o trabalho também inclui benefícios para quem contrata o serviço. “Antes da possibilidade de olhar o mundo através de drones, a realização de inspeções envolvia uma série de recursos, deslocamentos de profissionais e uma grande preocupação com as questões de segurança do trabalho. Atualmente, um piloto com seu drone pode fazer esse trabalho de forma ágil e segura a um custo muito menor”, explica Marcelo Quinderé, CEO da WillFly.
O que faz um piloto de drone?
Não é clichê dizer que o céu é o limite quando se trata da abrangência da profissão. Hoje, os especialistas estimam que essas aeronaves não tripuladas pilotadas remotamente já são utilizadas com grande aceitação pelos setores da construção civil, segurança, agricultura, topografia, mídia, marketing, imobiliário e turismo. “O uso dos drones está se disseminando pelas atividades produtivas”, destaca Flávio Lampert, diretor da ABM (Associação Brasileira de Multirrotores). “A função mais comum envolve a produção de imagens e fotos aéreas para aerolevantamento, inspeções de estruturas, monitoramento agrícola, segurança pública e transmissão de esportes. Entretanto, a todo instante surgem novas aplicações”, completa.
Hoje, em território nacional, as áreas mais exploradas são a da agricultura e da construção civil. O Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) estima que existam atualmente 1.500 drones operando no campo. Sua principal função nesse contexto é o mapeamento das lavouras e a detecção de animais ou plantas daninhas. Além disso, uma pesquisa pública realizada pela Anac no final de julho estuda a possibilidade de implementação de drones para a pulverização de insumos – técnica utilizada em grande escala na China. Já na construção civil, o aparelho serve principalmente para a coleta de imagens com fins de auditorias e fiscalização, tanto para grupos privados quanto para o poder público.
Outro destaque apontado pelos especialistas é a indústria de eventos. Na abertura da Olimpíada de Tóquio, por exemplo, 1.824 drones foram usados no lugar de bailarinos para formar imagens no céu. Na penúltima edição do Rock in Rio, em 2017, 100 aeronaves sobrevoaram o local durante nove minutos para animar a plateia e coletar a imagem panorâmica que é exibida nos telões. Nesse setor, as máquinas também vêm sendo usadas em jogos de futebol e até casamentos de luxo, para aqueles noivos que não querem perder um ângulo sequer da cerimônia.
“Os pilotos e especialistas do setor podem atuar como profissionais liberais, empreendedores e também como funcionários de empresas que contratam o serviço. O que muda é o nível de qualificação exigida, a técnica envolvida e o tipo de aeronave necessária”, diz Leonardo Minucio, diretor técnico da Futuriste, empresa de assistência de drones.
Por atuar frequentemente como profissional liberal, o salário do piloto de drone depende da quantidade e do tipo de serviços prestados no mês. “O valor médio de uma diária está entre R$ 500 e R$ 2.500, podendo chegar até a R$ 15.000 para drones equipados com sensores de alto valor agregado”, comenta Leonardo Minucio.
Demanda pela função só cresce
Considerado o maior mercado de drones na América do Sul, o Brasil possui um faturamento anual no setor estimado em US$ 373 milhões, segundo a Droneii, empresa alemã especializada em aeronaves do tipo. De acordo com ela, as compras do dispositivo no país devem continuar crescendo cerca de 11,3% ao ano até 2026 – número bem maior do que a média de países como Estados Unidos (6,8%) e China (9,7%).
Com novas regulamentações em curso na área da agricultura, a demanda por profissionais qualificados tende a aumentar nos próximos anos. Com mais de 60 milhões de hectares destinados às plantações, segundo o último Censo Agropecuário, o Brasil deve agregar cerca de 100 mil drones somente para o uso nas lavouras caso decida seguir os passos da China.
“Com o avanço da tecnologia e o crescente investimento em novos sensores e câmeras, os trabalhos estão se tornando cada vez mais precisos. O uso de inteligência artificial e a qualificação dos pilotos com certeza elenca a operação de drones como uma das profissões do futuro”, afirma o CEO da WillFly.